Babies check-up

Ji Sook gostava de trabalhar com crianças. Vê-las com suas mães era sempre algo que a ajudava um pouco com a própria dor. Não que sua madrasta fosse ruim, mas ela sempre se pegava revivendo as memórias até o fatídico dia em que achou a mulher que lhe dera a luz pendurada pelo pescoço na varanda de casa. Às vezes, ainda acordava suando frio. Mas não naquele dia, não. Aquele era um bom dia. E ela iria aproveitá-lo.

Chegou ao hospital, usando os tênis extramemente brancos de tão limpos, a jeans clara e justa e uma comportada, mas igualmente justas, que deixavam seu colar aparecendo através do decote em V. Sua manhã transcorreu sem nenhum problema e ela almoçou com algumas das pessoas da clínica, voltando um pouco em cima da hora para fazer seus atendimentos da tarde. Ainda assim, pontual. Apenas tivera tempo de escovar os dentes.

Quando um homem, que parecia jovem demais, entrou com seus próximos pacientes, ela não conseguiu evitar o olhar surpreso em seu rosto. Ele devia ter, estourando, uns trinta anos. E isso porque Ji Sook estava considerando que ele não havia sido pai aos dezessete. — Olá! Eu sou Moon Ji Sook, hm? Vou ver como vocês estão hoje. Tudo bem por vocês? — os cumprimentou animadamente. — É um prazer conhecê-los. Quem de vocês quer ir primeiro? — perguntou com um sorriso brilhante, pegando dois pirulitos para as crianças. Doces eram um presente comum para crianças na Coréia e ela não tinha certeza se o eram no Japão, mas para seus pacientes maiores de dois anos, ela sempre dava algum.

Esperou para ver qual das duas crianças iria primeiro, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo para auscutar os pulmões da criança sem acabar prendendo algum cabelo dentro dos ouvidos. — O senhor tem alguma queixa ou é consulta de rotina? — olhou o homem nos olhos ao fazer a pergunta. Ele era bonito. Seus olhos baixaram para a mão dele. Bonito e casado. Ou seria viúvo e não havia superado ainda?

Ela podia sentir que os olhos dele pareciam examiná-la minunciosamente. Mas não seria ela a dizer que ele não podia. De todo modo, a garotinha parecia bem, seus pulmões estavam limpos e seu coração parecia forte e saudável. Exatamente como deveria ser. Concordou quando ele disse que eram apenas exames de rotina, um pequeno riso saindo de seus lábios. — Bom, a maioria dos pais fazem dois check-ups ao ano... então, quatro meses desde o último me parece muito bom, senhor. — ela o olhou com um meio sorriso, como se o instigasse a dizer alguma coisa.

Ele parecia estar, no entanto, brigando com a própria mente. Aferiu a pressão arterial da garotinha, examinou seus ouvidos, olhos e gargantas. Ela parecia uma criança saudável. Pediu licença para garotinha para examinar sua nuca, seu pescoço e atrás de suas orelhas. Também verificou o couro cabeludo da pequena menina, tendo certeza de não haver piolhos ou feridas. — Aiko, você sente alguma dor ao usar o banheiro? Coceira? Incômodo? — perguntou, olhando a menina atentamente, ignorando um pouco o homem adulto que a acompanhava. Esperou pela resposta antes de assentir. De toda maneira, pediria os exames padrão de sangue, urina e fezes embora pudesse apostar que a menininha estava bem. Lhe entregou o pirulo, olhando para o adulto da sala como quem perguntava se tudo bem, dizendo à menininha que esperasse o pai deixar que ela comesse o doce.

Foi então que sua atenção voltou-se para o garotinho. Limpou o que havia usado na menina e precisaria usar nele também. — O senhor tem alguma dúvida? — perguntou ao pai das crianças antes de pedir licença para colocar a mão sob sua camisa e fazer a ascuta. Ela estava sendo profissional como sempre, mas estava curiosa sobre o homem.

Bonito e bom pai? Que tipo de homem era aquele? O pensamento na cabeça de Ji Sook a fez rir, também em sua mente apenas. Concordou que sim, se a família materna tinha saúde frágil, era bom que ficassem mais atentos. — Bem, sim. É verdade. — o respondeu, quando ele fez os comentários sobre doenças silenciosas. Ela estava mesmo atenta no que fazia ao examinar as crianças, olhou também seus olhos, ouvidos e garganta. Procurando por manchas ou feridas em sua pele, principalmente na região da nuca e cabeça.

Aferiu sua pressão e repetiu as perguntas sobre incômodos ou dor ao usar o banheiro, aguardando pela resposta pacientemente antes de o liberar com o pirulito. Indicou então para que as duas crianças brincassem no canto de seu consultório caso não quisessem ouvir a conversa chata de adultos. Ela sabia que as crianças precisavam ser tratadas com o intelecto que tinha, mas se lembrava dela mesma ser uma criança de saúde ruim que adoraria não ouvir sobre exames e procedimentos, então, sempre era uma opção. Lavou as mãos, indicando ao homem que se sentasse e pegou o bloco para anotar os exames de rotina. Assim que se sentou.

— O senhor tem alguma dúvida? — perguntou em voz baixa, porque estavam perto o suficiente para que ela não precisasse elevar a voz.

A pergunta dele a fez olhá-lo com um misto de surpresa e riso. Ele havia mesmo pedido seu número?! Respirou fundo, mantendo a compostura e passou a língua pelos lábios, olhando as crianças brincando ao fundo. — Hm... claro. Dúvidas. — deu uma risadinha divertida, anotando seu numero em um post it para o homem. Talvez ele não fosse casado no fim das contas. Se ele fosse não pediria seu número daquele jeito na frente dos filhos. Ou pediria? Entregou o papel a ele, deixando que sua pele tocasse a dele como quem não queria nada. Mas o ato a fez suspirar baixinho quando um arrepio correu seu corpo, eriçando cada um de seus pêlos.

Pigarreou desconcertada ao terminar de preencher os pedidos de exames, assinando-os e carimbando-os com cuidado. De repente, sua garganta estava seca. Ele tinha uma pele macia. Ji Sook duvidava que ele trabalhasse em serviço braçal. E mesmo a roupa de trabalho caía muito bem nele. Balançou discretamente a cabeça, tentando retomar sua linha de raciocínio. — Bom, aqui estão os pedidos de exames. Como nem o senhor, nem as crianças têm alguma queixa pontual, eu estou pedindo apenas os exames rotineiros e, caso seja necessário depois de eu ver os resultados, solicitarei mais. Mas ao exame físico, eles estão em perfeita saúde, sim? — sorriu amigável, olhando-o nos olhos. Acabaria sonhando com aquele homem... ou pior. Afastou o pensamento com um balançar sutil de cabeça. — Se o senhor preferir o retorno presencial é só marcar na recepção. Caso contrário eu mando os resultados pelo email. — sorriu entusiasmada, se colocando de pé para se despedir.