doin' somethin' unholy

A verdade é que Zenki não esperava que falar com Shin depois de todos aqueles anos ainda fosse a mesma coisa. Mas sempre era. O garoto era mesmo como uma pedra, talvez como as antigas construções do Japão: nada, nem ninguém, podia mudar sua natureza. E a natureza de Hirawa Shin era calorosa, alegre e muito, muito, agradável. Era fácil gostar dele. E era fácil se manter próximo. Agradável demais, encantador demais… curativo, até; quase viciante. Se o sol fosse uma pessoa, talvez ele fosse Shin. Claro, sem a parte de queimar as pessoas até a morte, definitivamente.

Zenki se lembrava porque diabos havia acabado por se sentir atraído por ele no último ano do colégio. E a verdade era que Hirawa Shin… bom, fora ele quem abrira a “caixa de Pandora” de sua existência e o fizera se perguntar se gostava exclusivamente de mulheres. A resposta fora não.

Ignorou o fato de sua irmã estar pegando em seu pé, enchendo sua paciência. Hio podia ser irritante quando queria. De qualquer modo, quando chegaram ao bar, ele cumprimentou a todos com um sorriso ladino, abraçando Shin apertado. Quando haviam se falado da última vez mesmo? Quando Tadami... empurrou o pensamento para o fundo da própria cabeça. Não pensaria naquilo. Não ali. Não agora. Teria tempo de remoer a própria culpa. Depois.

— Pelo o visto, a memória de merda do seu irmão continua a mesma. — pontuou para Mirai com bom humor, rindo de maneira suave. — Mas você tem certeza de que ele não parou de amadurecer aos doze anos?

Voltou sua atenção para a namorada de Shin ao lado dele, pensando se ela sabia. Mas a verdade é que talvez não soubesse. E talvez não fosse relevante. Provavelmente não era. Aikyo Zenki era só um curioso por natureza. Nada como sua irmã, é claro. Ele, ao menos, tinha habilidade social.

Ela queria dizer que estava confortável em ir ao bar com todo mundo. Mas a verdade era que não estava. Não sabia que ia ser todo mundo mesmo. Havia pensado que seriam ela, Shin, Zenki, Mirai e, talvez, a namorada de Shin. Não esperava que ao chegarem no bar, fossem dar de cara com Chomi e Isamu. Que ela não via havia muito tempo, mas sua memória era excelente. Fazer o que?

Deu oi para os presentes e se sentou sossegada no canto, deixando que sua cabeça vagasse para qualquer lugar que não fosse a conversa, mesmo que um sorrisinho de canto estivesse em seus lábios ao pensar em como Zenki e Shin pareciam igualmente bobos ao fim do ensino médio. Será que ela também era a mesma? Havia tanto tempo. Não mudariam nunca?

Deixou que seus olhos percorressem o lugar, vendo um grupo diferente de pessoas que pareciam ter aproximadamente a sua idade. Eles estavam bem vestidos. Pareciam crianças ricas e o pensamento a fez dar um suspiro. Era óbvio que ela nunca se encaixaria em lugar nenhum… ao menos seu irmão a aceitava como ela era. Ao menos.

"Shin-kun deve estar mesmo feliz já que parece confortável? Por que será que Koharu-san não veio? Ela não estava na Coréia também? Será que eles não sabem que ela está aqui?", pensou consigo mesma antes de pedir uma cerveja ao garçom, pronta para lhe mostrar a identidade. Odiava o eterno rosto de bebê com as bochechas enormes que pareciam nunca diminuir apesar de todo o peso que perdera nos últimos anos.

Mas ao menos estava ali para se divertir.