˚ ༘♡ ⋆｡˚ ❀ if love is blind, then maybe a blind person that loves has a greater understanding of it. ˚ ༘♡ ⋆｡˚ ❀

Depois de quase um mês da cirurgia, Ji Sook não tinha mais desculpas para dar acerca do motivo de ela não ficar sem os oclusores. Ela os usava sempre que sentia a sensibilidade aumentar, embora viesse usando por menos tempo a cada dia. Na última semana ela vinha vendo cada vez menos embaçado. E, conseguia ver melhor os contornos dos móveis, das pessoas e todo o mundo de modo geral. Mas era como se um filtro de “borrão” ainda existisse.

Naquela manhã, no entanto, ao se levantar e ir até o banheiro para lavar o rosto, viu-se lacrimejando quando olhou no espelho e percebeu que a própria visão estava limpa como não estivera em anos. Não era perfeito. Ela sabia que não era. Mas conseguiu ver como seu rosto mudara com o tempo antes que tudo embaçasse pelas lágrimas. Chamou o namorado, a voz animada, eufórica e chorosa. Gentilmente, a garota tentava secar as lágrimas. Queria vê-lo. Queria muito vê-lo.

Ela se aproximou da porta quando ouviu os passos dele no corredor e piscou com um pouco mais de força ao perceber que o via tão limpo quanto a si mesma. — Vejo você — foi tudo o que conseguiu dizer antes de o abraçar sentido o ar entrar em seus pulmões com dificuldade. Ela cuidou para não tocar nos próprios olhos ao se afastar com outra piscada forte.

Deu uma boa olhada para o rosto dele, respirando fundo para conter mais lágrimas que insistiam em querer sair. Alisou as bochechas dele com um sorriso largo. Ele não era como ela imaginara. Mas agora ela podia ver o porquê. Não haveria imaginação que poderia criar alguém tão bonito, ainda brigava com as lágrimas enquanto sentia cada parte do rosto dele, como havia feito tantas vezes antes. — Você não é mais um borrão… você… — começou a rir, sem conseguir segurar as lágrimas ao abraçá-lo outra vez, deitando a cabeça em seu ombro.

Estava feliz porque poderia ver. E, sabia, ainda veria melhor que agora. As coisas continuariam a ficar mais nítidas. Ainda assim, não conseguia parar de chorar, apertando a camisa de Shin. Era o mesmo cheiro. Ela reconhecia a voz também. Então era aquele o rosto do homem que tanto amava? Uma risadinha baixa escapou por seus lábios. — Seu nariz não é tão grande assim, eu achava que era maior. — balbuciou, em tom de brincadeira, por entre os soluços. — Você é lindo... agora eu vejo você por fora também. E você é tão lindo por fora quanto por dentro.

O apertou, querendo olhá-lo melhor, mas sem conseguir conter o choro. Parecia um sonho. Mas se fosse, ela não queria acordar.

Não importava o que dissessem. Shin, para ela, era a face do amor. Era ele quem a amava e era a ele quem ela amava de volta. De forma pura, singela e honesta. E ver a forma como ele a olhava, junto do sentir como ele a segurava, a fazia ter certeza de que era recíproco. Dez anos sem enxergar fora um longo tempo. Mais longo do que ela desejava que fosse. Um castigo maior do que ele jamais desejaria a outra pessoa. Mas os últimos quatros anos foram os mais difíceis. Especialmente porque à medida em que o tempo passava e sua certeza de querer se casar com o japonês aumentava, ela se sentia mais e mais ansiosa por poder ver de novo. — Eu amo você.

Sua voz era rouca, fraca e chorosa. Porque ela mal conseguia segurar todas aquelas emoções dentro de si. O queria apertar e segurar. Porque sua vida dependia dele. Dependia daquilo. — Vou? Por que eu vou fugir? Tem algo horrível que vou descobrir agora que vejo? Você esconde corpos pela nossa casa? — perguntou com algum divertimento — Ou você tem um gosto ruim para decorações? — continuou, se afundando contra o corpo do mais velho.

— Eu amo você. Amo demais. Mesmo e eu sei que nunca vou amar alguém como amo você. — ergueu o rosto para olhá-lo, dessa vez, sem se afastar. Beijou seu queixo e se esticou na ponta dos pés para beijar sua bochecha. — Você não é nadinha como eu imaginei... mas é só porque o meu cérebro não tinha como imaginar que você seria tão bonito. — sussurrou, soluçando outra vez. Conseguiria parar de chorar? O que ele havia visto em si? Uma garota sem muita perspectiva de futuro, especialmente naquele país. Cega. Por que alguém como ele estava com alguém como ela?

— Obrigada. — sussurrou, lhe dando selinhos demorados. Ela o amava. E ela puro. Genuíno. Real e palpável. E doía seu peito ver aquele homem, que ela tanto amava, feliz - genuinamente feliz - por si. — Obrigada por não ter desistido. De mim, da gente. Por ter... me protegido. — fungou, mantendo ambas as mãos nele. Ainda muito perto. Não queria soltá-lo. Nunca.

Riu um pouco quando ele sugeriu que teria mesmo algum problema com a decoração. Mas não queria soltá-lo. Apesar de que querer ver Tommy - seu cachorro. Também queria ver o rosto dos pais de Shin, de seus irmãos e sobrinhos. Queria ver os rostos das pessoas de sua própria família também. De sua mãe... o quanto ela havia mudado em dez anos? — Eu amo você... amo demais. — sussurrou, sabendo que não veria para sempre. Sabendo que era - ainda que por um longo tempo, se tivesse sorte - com um prazo limitado. Mas fossem dois anos ou trinta antes que seu corpo eventualmente rejeitasse o transplante... ela aproveitaria. Cada minuto. Cada segundo.

Veria o pôr do sol todos os dias que conseguisse, bem como o nascer do sol. Olharia para Shin até que ele se cansasse. Estava engasgada na falta que sentia daquele quinto sentido. Não que ela o tivesse subestimado alguma vez, mas dez anos fora uma privação tão longa de algo tão... simples. Parecia inacreditável. — Não é um sonho, não é? — perguntou com algum divertimento. — Porque se for, você não atreva a me acordar... — riu baixinho, beijando-o.

Era aquilo. Ela sabia que era. O choque usual por poder tocar em Shin lhe garantia que era real. — Casa comigo... — sussurrou o pedido, baixo, mas ainda o suficiente para se fazer ouvir. — Por favor... a gente já... passou coisa demais. Então, agora que eu não vou mais ser uma cobaia... — riu fraco — Casa comigo, Aikyo Shin...

Concordou quando ele disse que era a realidade e não um sonho. Estava feliz. Tão feliz que não sabia como poderia ser mais feliz em algum dia qualquer de sua vida. Então ela podia mesmo enxergar outra vez e, parte de si, lamentava que seriam ao menos três meses até poder ter alguma normalidade. Outra parte estava simplesmente eufórica porque três meses não eram nada. Não estava mais na completa escuridão.

Suas mãos seguraram os punhos de Shin quando ele beijou sua testa e ela concordou com um sussurrado "eu sei" ao que ele disse que a amava. Sabia que amava. Porque ninguém que não a amasse poderia ter ficado a seu lado por tanto tempo, mesmo quando a coisa mais simples era motivo para que ela se ferisse ou se chateasse, como mudar um móvel de lugar, por exemplo. — Amo você, Aikyo Shin — sorriu mais, finalmente tendo algum controle sobre as próprias lágrimas. E era a mais pura verdade. O amava... por ser tão bonito por dentro quanto era por fora, por fazê-la se sentir segura e amada. Por tratá-la bem e ver que ela era muito mais do que uma pessoa com uma deficiência. Queria que a espera tivesse valido a pena para ele também. Porque ele merecia.

— Então... vai ter que casar comigo várias vezes — sussurrou em tom de puro divertimento. Não conseguia, nem queria, parar de sorrir. Também não queria que ele lhe soltasse, pensando que queria que ele soubesse, de verdade, tudo que significava para ela. Era seu mundo, seu lugar seguro e tudo que lhe importava. — Quer me mostrar a decoração agora? E Tommy? — sussurrou com um sorriso, beijando as palmas das mãos dele. As mesmas mãos que vinham cuidando dela nos últimos anos.

A ele, seria eternamente grata.